Pacôme Thiellement: “Nas redes sociais, somos como pequenos bilionários do afeto”





Na origem de “Infernet”, programa de miscelânea digital proposto no site de notícias Blast, o ensaísta fala-nos, à luz dessas tragédias, sobre nossa a relação com as redes sociais em tudo que elas possam ter de mais sombrio. (…).

Encontramos Pacôme Thiellement na esplanada do seu café favorito em Paris. De barba farta e cachimbo no canto da boca, o ensaísta e cineasta recebe-nos com uma gargalhada dionisíaca e um chá verde. No burburinho da capital, da qual conhece todas as sombras do submundo por ter publicado em setembro de 2022 um guia quase oculto da cidade (Paris des profondeurs, editado por Seuil), ele fala-nos de Infernet, o programa que pensou para Blast, média de notícias online de Denis Robert. Como um Pierre Bellemare da era digital, Pacôme relata numa série de vídeos doze factos diversos (às vezes sórdidos, muitas vezes tristes de chorar), que marcaram a geração da internet com, implicitamente, essa ideia subjacente de que esses destinos trágicos dizem algo sobre a nossa relação com as redes sociais e as fraturas que nos atravessam.

Do assassinato da influenciadora Gabby Petito à morte não resolvida de Elisa Lam num reservatório de água no telhado de um hotel decadente, da vida ectoplásmica de Marina Joyce ao suicídio de Conrad Roy, levado ao ato por uma namorada virtual, mas muito real , todas estas histórias falam ocamente, conta-nos o autor, da solidão e da busca desesperada pela felicidade, face à existência da rede social, este vórtice de onde nunca saímos. Exegeta de objetos da cultura pop, de Twin Peaks a Frank Zappa, Thiellement desvenda essas histórias muitas vezes criminosas como um detetive do invisível. “O escritor sempre ouve coisas que não estão presentes”, repete Bret Easton Ellis em Les Éclats, seu último romance.

Fonte: Les Inrockuptibles, 27 de abril de 2023

Foto: Alena Zenina, uma performer ucraniana, que empenha os seus três órgãos genitais e todas as suas zonas sexuais na sua criação artística para a webcam. Sendo a webcam o cinzel, o pincel, a pena de pato, para a criação de Arte na era moderna.

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