“99 Moons”, foda de moral

Multiplicando cenas cruas de sexo, o filme de Jan Gassmann quer fazer do sexo um assunto do cinema, mas luta para fazer com que outros aspetos da história existam.

Algures entre “Nove Semanas e Meia”*, para um erotismo clandestino em roda livre, viciante e programático, e “99 Luftballons”, a canção de Nena, para o lado alemão antigo de filme em cima de sintetizadores e caixas de ritmos dos anos 80, “99 Moons” faz da paixão e do sexo entre dois seres, Frank e Bigna, o seu único objeto recorrente, de predileção. O relato obsessivo e chocante de Jan Gassmann, cineasta suíço-alemão, desde a sua abertura bizarra, embora intrigante de sexo rápido em face sitting para o prazer feminino, rapidamente deixando poucas dúvidas sobre o que ele quer (o fogo do amor, o electro industrial, o silêncio duro, o velho cinema rebelde), obriga-nos a recontar mentalmente os realizadores que, na era do fluxo tecnóide de corpos e drogas no ecrã, se estima que fizeram do sexo um tema de cinema como neste. Recapitulamos rapidamente o formalismo sexo, rock e clínica: Ferrara, Cronenberg, Brisseau, Breillat. Outra época.

Fonte: Libération, 9 de maio de 2023

* Estreado quinta-feira, 27 de novembro de 1986 no cinema Star.

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