Rendimento – Jorge de Sena
Estava sentado num degrau da porta,
encostado à ombreira,
numa rua de ligação, sem montras,
onde só passam carros e as pessoas a encurtar caminho.
A face pálida, boca entreaberta,
barba por fazer e o cabelo em repas desoladas.
Dificilmente respirava, nada seguia com os olhos,
ora muito abertos, ora piscando muito.
No regaço, e protegido pelos joelhos agudos,
tinha um boné no qual
esmolavam os transeuntes.
Da lapela, preso por um alfinete,
pendia amarrotado e sujo um boletim
da Assistência Nacional dos Trabalhadores.
Era o cartão de visita, o bilhete
de identidade, a certidão, a carta
de curso, a apólice de seguro,
o título do Estado.
E, no boné, como se vê, caía o juro.
Lisboa, 25/6/1946
Foto: Rene Bond, tcc Annie Hall, Diane Lee, Karen Small, Lilly Lovetree, Lotta Rocks, Mindy Brandt, Michelle Combe, Paula Schnall, Priscilla Lee, Renee Bond, Renée Bond, René Bond, Sally Martin, 1,60 m, 52 kg, 97-61-91, olhos e cabelos castanhos, nascida a 11 de outubro de 1950 em San Diego, Califórnia. Faleceu a 2 de junho de 1996 em Los Angeles, vítima de cirrose.
“Teen-age Fantasies: An Adult Documentary” (1972), uma série explícita de quadros eróticos centrados nas fantasias sexuais de adolescentes. Onde, Rene Bond, doce e encantadora, demonstra a sua excecional mestria no felácio nos segmentos de ligação. Sob o título “Sexo em brasa” estreia em sessões permanentes a 19 de outubro de 1981 no cinema Olímpia, local de culto parte significativa da convivência social e exibição de filmes de qualidade na cidade de Lisboa.
“No Olimpia, com sessões contínuas de «hard-core» (porno da
pesada) esgotadas umas atrás das outras, os entusiastas pornófilos
acotovelavam-se em longas bichas, para conseguirem entrada.
Eram magalas de folga, jovens em fim de adolescência e
outros menos jovens encalhados na tal adolescência onde, ainda, quem sabe,
todos os frutos continuam a ser proibidos. Havia até certos doutores à mistura,
caras batidas na TV que, num impulso irresistível, venciam resistências e
abancavam numa coxia, atrás de um vespertino (durante o intervalo).
Pontualmente, nas últimas filas, com preferência do balcão, uma cara feminina,
muito chegada ao parceiro que a levara àquele antro de tentadora perdição,
espreitado em nome da curiosidade. E havia estrangeiros de férias, e maricas...”
Jornal Se7e, 18-05-1988.
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