Égloga Basto de Francisco de Sá de Miranda (10)
BIEITO
50
Pois contigo a razão val,
vejamos quem mais conjunta;
olha que todo o animal
forte, ou fraco, aos seus se ajunta
por distinto natural.
As pombas andam em bandas,
voam grous postos em az;
estas andorinhas brandas
não querem de nós viandas,
querem companhia e paz.
51
Como no mundo apontamos,
do ventre em terra caímos;
como de nós sós choramos,
doutrem que ajuda pedimos!
nós sós para que prestamos?
Então vem a fantasia
dos nossos leves zagais!
a quem inda mais diria
que não hei por companhia,
salvante a dos meus iguais.
52
Um bacorote honradiço
foi ver o gado ovelhum;
pô-lo todo a seu serviço,
trombejava ali um e um,
que espantá-lo era o seu viço.
Vem um dia o lobo, e apanha
o bacorote engrifado;
abrandou-lhe aquela sanha;
brada ele em pressa tamanha,
cad’ um de si tem cuidado.
53
Vinham os porcos d’ aldeã
atrás, e grunhir ouviram:
um escuma outro esbravea;
estes, si, que lhe acudiram;
perde o lobo sua cea.
Olhou ele, e viu tremer
de lã branca o gado; e olhando
de longe se põe a ver.
Disse: Antes mandado ser,
que a tal perigo tal mando.
54
Fui um dia à vila, Gil:
eu, logo ò sair de casa,
mais verde que um perrexil,
cuidei que mandava a brasa
de galante e de gentil.
Bem passei c’ os viandantes;
mas, despois lá, quando cheas
vi as ruas de galantes,
s’ eu viera ufano d’ antes,
não tornei tal às aldeas.
55
Em quanto um diz, outro ri:
- Bom vai o do barretinho!
- Nunca o tam figadal vi!
Chamavam-me outros ratinho,
uns assi, outros assi.
Finalmente por acerto
vinham-se dos nossos já;
deixei-os chegar ao perto;
i passei como encoberto,
mas tarde me acolhem lá.
Fonte - bucolismo moderno - linda boneca rega a relva com
seu mijo.
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