Égloga Basto de Francisco de Sá de Miranda (3)













GIL
 
21
Seja, amigo meu Bieito,
a tal vinda em hora boa;
eu digo, amigo escolheito,
como quem o leite côa,
qu’ há d’ ir por dentr’ao seu peito.
 
Mas, respondendo ao que dizes,
vês-me cajado e fardel,
não caçador de perdizes,
bem sei que há muitos juízes,
e muito poucos sem fel.
 
22
Mas em fim, que pesa ou val,
- a nós parece que muito,
diz Turíbio, diz Pascoal, -
palavras vãs e sem fruito,
e às vezes inda sem sal?
 
Quando a bíbera no ar morde,
Por mais peçonha que traga,
Não temas que eu inche e engorde,
Não hajas medo que acorde
Bradando pola triaga.
 
23
Vês tu cousa que este queda?
Ora é noite, ora amanhece,
ora corre uma moeda,
ora outra tudo envelhece,
tudo tem no cabo a queda.
 
E nós a ter mão na conta
errada! sejamos velhos,
quer meninos – que mais monta?
O presente todo afronta,
a vida vai-se em conselhos.
 
24
Do leite e sangue empolado,
O bezerrinho viçoso
vai brincando pólo prado;
despois eis que, priguiçoso,
ora ò carro, ora ò arado.
 
C’os dias e c’o trabalho
o saltar d’antes lhe esquece;
não é já o que era almalho:
venda-se para o talho,
qu’este boi velho enfraquece.

Foto - bucolismo moderno - linda adolescente pratica recreios aquáticos numa tranquila clareira na floresta.

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