Égloga Basto de Francisco de Sá de Miranda (6)
BIEITO
30
Come de toda vianda,
não andes nesses entejos;
não sejas tam vindo à banda,
tem-te às voltas c’os desejos:
anda por onde o carro anda.
Vês como os mundos são feitos:
somos muitos, tu só és;
por isso, em todos seus jeitos,
um esquerdo antre direitos
parece que anda ao revés.
31
Dia de Maio chuveu:
a quantos a água alcançou
o miolo revolveu;
houve um só que se salvou,
que ao coberto se acolheu.
Dera vista às semeadas,
as que tinha mais vezinhas;
viu armar as trovoadas,
acolhe-se às bem vedadas
das suas baixas casinhas.
32
Ao outro dia um lhe dava
paparotes no nariz,
vinha outro que o escornava;
aí também era o juiz,
que se de riso finava.
Bradava ele: - Homens, estai!
iam-lhe c’o dedo ao olho.
Disse então: - E assi che vai?
Não creo logo em meu pai,
se me desta água não molho.
33
Apaixonado qual vinha,
achou num charco que farte;
o conselho havido o tinha:
molhou-se de toda a parte,
tomou-a como mezinha.
Quantos viram, lá correram:
um que salta, outro que trota,
quantas graças i fizeram!
Logo todos se entenderam:
ei-los vão n’ua chacota.
Foto - bucolismo moderno - adolescente loira mijando no
parque.
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