Égloga Basto de Francisco de Sá de Miranda (introdução)
a Nuno Álvares Pereira
1
Pelas ribeiras duns rios
[ O próprio ]
(como dizem os cantares)
e pelos bosques sombrios,
dando lugar aos pesares,
ouvi meus contos baldios.
E porque m’eu também afasto
do povo, que me não reja,
ou trás si me leve a rasto,
vede em que, do tempo, gasto
também o que me sobeja.
2
Enquanto um joga, outro caça,
[ Os outros ]
outro dorme, outro trasfega, em geral
tantos murmuram na praça;
outro quanto afirma ou nega
com juras tudo embaraça.
De si tanto outro se preza
que só cuida que ench’as festas;
outro pela rua reza.
Falemos com a natureza,
andando pelas florestas.
3
Grande sinal de saúde
[ O destinatário ]
é ter tudo à parte posto,
olhos somente à virtude;
ledo ou triste, um mesmo rosto,
que não há quem vo-lo mude.
Sabeis, sem outra mais troca,
que é ela assi paga igual;
por isso não vos trastroca
o coração nem a boca,
o bem nem menos o mal.
4
Por de mais tudo aperfia
[ Aquele de
c’um peito tam livre e são,
quem se vai falar ]
que tomou tam certa guia;
daqui nace a presunção,
cuidam que da fidalguia.
Quem sabe por onde vai
leva sua conta feita,
nunca do caminho sai,
nunca olha a quem diz: «tomai
à esquerda, ou à direita».
5
Ambos nos temos à banda
[
Conclusão ]
de Gil, que aqui vos envio
por onde a menos gente anda;
eu porém não aporfio,
[ Não disputa ]
que a cada um seu gosto manda,
[ Não rivaliza ]
Não falecem contendores, [ Não faltam rivais ]
seja a razão a que vença;
estem à parte os favores;
ouvi os vossos pastores:
outrem parta a deferença.
Foto - bucolismo moderno - adolescente loira bebe muita água e faz xixi ao ar livre.
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