Écloga de Jano e Franco de Bernardim Ribeiro (3)













Dizem que naqueste meo 
se esteve Joana oulhando;
e, descobrindo o seu seo,
oulhou-se, e dixe, um ai dando:
«Eu guardo patas, coitada,
não sei onde isto há-de ir ter,
mais era eu pera guardada.
Que concerto foi este, ser
fermosa e mal empregada!»

Em aquisto Jano ouvindo,
não se pôde em si sofrer,
que de antre as ervas saindo
se não lançasse a correr.
Joana, quando sentiu
os estrompidos de Jano,
e que se virou e o viu,
temor do presente dano
lhe deu peis com que fugiu.

Mui perto estava o casal
onde vivia o pai dela,
que fez ir mais longe o mal
que Jano teve de vê-la.
Mas o medo que causou
Joana partir-se assi,
tanto as mãos lhe embaraçou,
que a sapata esquerda, ali,
com a pressa lhe ficou.

Jano, quando viu e olhou
que nenhum remédio havia,
pera o lugar se tornou
aonde ela na água se via.
E vendo a sapata estar
no areal, à beira de água,
foi-a correndo abraçar.
Tomando-a, cresceu-lhe a mágoa,
e começou de chorar.

Vem ali ter, entretanto, Franco, outro pastor, que mantém com o seu amigo Jano um longo diálogo, no qual ambos se lamentam das suas infelicidades amorosas. E a écloga termina ao entardecer, com o levar do gado à água.

Foto: O termo bucólico tem origem etimológica no grego "boukolikos" (pastoril, rústico), formado a partir de "boukolos" (boieiro), uma junção de "bous" (boi) + "kolos" (cuida de). Atualmente, o gado é produzido em fábricas, mas as jovens parolas continuam a inspirar poetas, quando baixam as calças respondendo aos apelos da natureza.  

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Teeners from Holland

"Estrutura do fait-divers", Roland Barthes, em Ensaios Críticos (1964)

Retificar o passado aperfeiçoa o presente