A Serguei Iessienin – Vladimir Maiakovski
Você partiu,
como se diz,
para o outro mundo.
Vácuo. . .
Você
sobe,
entremeado às estrelas.
Nem álcool,
nem moedas.
Sóbrio.
Voo sem fundo.
Não, lessienin,
não posso
fazer troça, -
Na boca
uma
lasca amarga
não a mofa.
Olho -
sangue nas mãos frouxas,
você sacode
o invólucro
dos ossos.
Sim,
se você tivesse
um patrono no "Posto" - [alusão à revista Na Postu, da RAPP –
Associação Russa de Escritores Proletários]
ganharia
um conteúdo
bem diverso:
todo dia
uma quota
de cem versos,
longos
e lerdos,
como Doronin. [Referência ao poeta soviético I.I. Doronin (n. em 1900)]
Remédio?
Para mim,
despautério:
mais cedo ainda
você estaria nessa corda.
Melhor
morrer de vodca
que de tédio!
Não revelam
as razões
desse impulso
nem o nó,
nem a navalha aberta.
Pare,
basta!
Você perdeu o senso? -
Deixar
que a cal
mortal
Ihe cubra o rosto?
Você,
com todo esse talento
para o impossível;
hábil
como poucos.
Por quê?
Para
quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese:
refratário à sociedade.
Corolário:
muito vinho e cerveja.
Sim,
se você trocasse
a boêmia
pela classe;
A classe agiria em você,
e Ihe daria um norte.
E a classe
por acaso
mata a sede com xarope?
Ela sabe beber -
nada tem de abstêmia.
Talvez,
se houvesse tinta
no "Inglaterra"; [Hotel Angleterre, em Leninegrado, onde Iessienin se enforcou em 28 de dezembro de 1925]
você
não cortaria
os pulsos.
Os plagiários felizes
pedem: bis!
Já todo
um pelotão
em auto-execução.
Para que
aumentar
o rol de suicidas?
Antes
aumentar
a produção de tinta!
Agora
para sempre
tua boca
está cerrada.
Difícil
e inútil
excogitar enigmas.
O povo,
o
inventa-línguas,
perdeu
o canoro
contramestre de noitadas.
E levam
versos
velhos
ao velório,
sucata
de extintas exéquias.
Rimas gastas
empalam
os despojos, -
é assim
que se honra
um poeta?
-Não
te ergueram ainda um monumento -
onde
o som do bronze
ou o grave granito? -
E já vão
empilhando
no jazigo
dedicatórias e ex-votos:
excremento.
Teu nome
escorrido no muco,
teus versos,
Sobinov os babuja, [o cantor L.V. Sobinov (1872-1934) foi um dos
participantes da homenagem à memória de Iessienin, que teve lugar no Teatro de
Arte de Moscovo, em 18 de janeiro de 1926, quando interpretou uma canção de
Tchaikovsky]
voz quérula
sob bétulas murchas -
"Nem palavra, amigo,
nem so-o-luço".
Ah,
que eu saberia dar um fim
a esse
Leonid Loengrim! [O
papel de Loengrim, da ópera deste nome, de Wagner, constituiu um dos grandes
êxitos da carreira artística de Leonid Sobinov]
Saltaria
- escândalo
estridente:
- Chega
de tremores
de voz!
Assobios
nos
ouvidos
dessa gente,
ao diabo
com
suas mães e avós!
Para que toda
essa corja explodisse
inflando
os escuros
redingotes,
e Kogan [o crítico P.S. Kogan (1872-1932), representante da crítica mais
dogmática, com quem Maiakovski manteve frequentes polémicas]
atropelado
fugisse,
espetando
os transeuntes
nos bigodes.
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro
é
preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anémicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força
humana
- Verbo -
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no
passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu
ofício.
Foto: Alecia Fox, tcc Alecia / Alicia Fox / Aljona /
Arya / Dolly / Lissa / Rita Mochalkina, 1,70 m, 53 kg, 84-62-89, sapatos 38,
olhos cor de avelã, belos loiros, nascida a 12 de janeiro de 1998 na Federação
Russa.
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