Ecossistema fascista

Ashley Graham é bem mais do que um rosto e corpo, é o símbolo de uma nova era na Moda e na Beleza. Porquê? A norte-americana colocou na capa de edições como Vogue, Harper's Bazaar ou Elle e nas passarelas dos grandes designers, uma modelo plus size o que até à data seria impensável. Aliás, foi a primeira a fotografar para a capa da revista Sports Illustrated Swimsuit Issue. Hoje, Ashley Graham é uma das vozes mais ativas no movimento de body positivity (positivismo corporal) e Health At Every Size (Saúde em Qualquer Tamanho).

Para além das palestras motivacionais que dá, a modelo costuma partilhar no Instagram fotografias do seu corpo sem retoque e sem qualquer pudor. Celulite, estrias, nada é escondido. Aliás, medida que adotou também quando fotografou a campanha para a sua marca de swimwear, onde deixa ver as suas estrias, fruto da gravidez. Em maio de 2022, lançou uma coleção de roupa íntima sensual, em parceria com a marca Knix.

Fonte: Miranda by Sapo, 30 de outubro de 2022

***************

“Ao primeiro exame, é possível definir as palavras pelo seu caráter arbitrário ou coletivo. Na sua raiz primeira, a linguagem é feita, como diz Hobbes, de um sistema de sinais que os indivíduos escolheram, primeiramente, para si próprios: por essas marcas, podem eles recordar as representações, ligá-las, dissociá-las e operar sobre elas. São esses sinais que uma convenção ou uma violência impuseram à coletividade; mas, de toda maneira, o sentido das palavras só pertence à representação de cada um e, conquanto seja aceite por todos, não tem outra existência senão no pensamento dos indivíduos tomados um a um: “É das ideias daquele que fala”, diz Locke, “que as palavras são signos, e ninguém as pode imediatamente aplicar como signos a outra coisa senão às ideias que ele próprio tem no espírito”. O que distingue a linguagem de todos os outros signos e lhe permite desempenhar na representação um papel decisivo não é tanto o facto de ser individual ou coletiva, natural ou arbitrária. Mas, sim, o fato de que ela analisa a representação segundo uma ordem necessariamente sucessiva: os sons, com efeito, só podem ser articulados um a um; a linguagem não pode representar o pensamento, de imediato, na sua totalidade; precisa dispô-lo parte por parte segundo uma ordem linear.”

Michel Foucault, “As palavras e as coisas - Uma arqueologia das ciências humanas”

Num ecossistema fascista, no qual temos a honra de viver, a arbitrariedade do signo desapareceu para ser substituída pelo despotismo da recém-adquirida mundividência científica que descobriu a palavra certa.  Já não é a convenção, mas violência que impõe a palavra à coletividade, donde sai da língua palavras como “gorda”, “Inglaterra”, “Holanda”, por exemplo, e entra “size plus” “britânico” “neerlandês”, e o mundo melhorou por palavras ditas.  

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Teeners from Holland

"Estrutura do fait-divers", Roland Barthes, em Ensaios Críticos (1964)

Pesquisa